Início de uma trajetória marcada pela superação
Mirko Jozic nasceu em 8 de abril de 1940, em Trill, uma pequena localidade da antiga Iugoslávia. Antes de se tornar treinador, foi jogador profissional de futebol até que, aos 27 anos, uma lesão no tornozelo direito encerrou sua carreira prematuramente. Após esse episódio, decidiu trocar o campo pelo banco de reservas e, depois de se formar como professor de educação física, iniciou sua trajetória como treinador em 1970.
A relação de Jozic com o futebol chileno, porém, começaria muitos anos depois. Em 1987, o técnico desembarcou no Chile pela primeira vez, ainda como responsável pela seleção sub-20 da Iugoslávia. A equipe conquistou o Mundial disputado em solo chileno, encantando o público com um futebol técnico, coletivo e moderno, jogado por uma geração que mais tarde seria considerada lendária: Boban, Mijatovic, Suker, Prosinecki, Stimac e Jarni estavam entre os destaques daquele time.
O primeiro contato com o futebol chileno
Entre os que se impressionaram com o trabalho do treinador estava Peter Dragisevic, presidente do Colo-Colo e de origem croata. Fascinado pelo estilo de jogo do técnico, Dragisevic convidou Mirko Jozic para trabalhar nas divisões de base do clube chileno. Assim, no fim de 1987, Jozic retornou ao país para avaliar jovens talentos e montar um projeto de formação de jogadores.
Sua primeira passagem pelo Colo-Colo foi curta, mas produtiva. Após cumprir sua missão e entregar relatórios detalhados sobre as categorias de base, Jozic retornou à Europa, alegando saudades da família. Enquanto isso, o Colo-Colo, sob o comando de Arturo Salah, conquistava títulos nacionais, mas seguia obcecado por um objetivo que ainda parecia distante: vencer a Copa Libertadores da América.
O retorno ao Chile e a missão continental
A eliminação para o Vasco da Gama na Libertadores de 1990 foi um golpe duro. Com Salah assumindo a seleção chilena, Dragisevic decidiu apostar novamente em Mirko Jozic, desta vez como técnico principal do Colo-Colo.
Ao desembarcar em Santiago com sua esposa e filha, o treinador croata foi direto em sua meta: “Meus objetivos são simples: tornar o Colo-Colo campeão nacional e conquistar a Copa Libertadores”.
Manteve a base da equipe e trouxe reforços pontuais de sua escolha. Também implementou um sistema tático mais ofensivo — com líbero, stoppers, volantes de ida e volta, um centroavante fixo e dois pontas abertos —, transformando o estilo de jogo da equipe. Sob seu comando, o Colo-Colo passou a se defender atacando, vencendo o campeonato nacional de 1990 e consolidando uma mentalidade vencedora.
Durante esse período, Jozic recebeu a visita de um jovem Marcelo Bielsa, que viajou a Santiago apenas para conhecer sua metodologia. Bielsa, com caderno e lápis em mãos, observou cada detalhe do trabalho do técnico croata — um encontro que, segundo o assistente Edio Inostroza, uniu “dois gênios do futebol”.
A caminhada do Colo-Colo rumo à glória
Na Copa Libertadores de 1991, o Colo-Colo foi sorteado no grupo 2, ao lado de Deportes Concepción, Barcelona de Guayaquil e LDU de Quito. A estreia foi fora de casa, em um empate sem gols contra o Concepción.
Na sequência, o time venceu o Barcelona de Guayaquil por 3 a 1, com gols de Rubén Espinoza, Marcelo Barticciotto e Sergio Salgado. Em seguida, bateu novamente o Concepción por 2 a 0 e goleou a LDU por 3 a 0, consolidando-se como líder do grupo.
Nas partidas de volta no Equador, empatou por 2 a 2 com o Barcelona e 0 a 0 com a LDU, garantindo a classificação em primeiro lugar. O Monumental de Santiago já era considerado um fortim — um local onde o Colo-Colo parecia imbatível.
Eliminações e vitórias decisivas
Nas oitavas de final, o adversário foi o Universitario do Peru. O Colo-Colo empatou em 0 a 0 em Lima e, na partida de volta, venceu por 2 a 1 com dois gols de Rubén Espinoza. A equipe avançava firme, e o sonho da América se aproximava.
Nas quartas de final, o desafio era o Nacional de Montevidéu, que contava com campeões da Libertadores e do mundo. Em Santiago, o Colo-Colo aplicou uma goleada por 4 a 0, com gols de Dabrowski (duas vezes), Rubén Martínez e Espinoza. A derrota por 1 a 0 no jogo de volta, no Estádio Centenário, não alterou o destino: o time chileno seguia às semifinais.
A semifinal histórica contra o Boca Juniors
O poderoso Boca Juniors, comandado por Óscar Tabárez, era o grande favorito. Com nomes como Navarro Montoya, Juan Simón, Blas Armando Giunta, Graciani, Batistuta e La Torre, o time argentino vinha de eliminar gigantes brasileiros como Corinthians e Flamengo.
No jogo de ida, na Bombonera, o Boca venceu por 1 a 0, com gol de Graciani. A volta, disputada em 22 de maio de 1991, no Estádio Monumental David Arellano, seria uma das noites mais intensas da história da Libertadores.
Após um primeiro tempo sem gols, o Colo-Colo marcou com Rubén Martínez aos 64 minutos e, dois minutos depois, Barticciotto ampliou para 2 a 0. A equipe argentina descontou com La Torre, mas, faltando oito minutos para o fim, Martínez marcou novamente — desta vez com uma cavadinha sobre Navarro Montoya — selando o 3 a 1 e a vaga na final.
O clima no estádio foi explosivo, com confusões e cenas de tensão, mas nada ofuscou a superioridade chilena. O Colo-Colo de Jozic era finalista.
A consagração continental
Na decisão, o adversário foi o Olimpia do Paraguai, campeão da edição anterior. O primeiro jogo, em Assunção, terminou empatado em 0 a 0.
Na partida de volta, em 5 de junho de 1991, diante de um Monumental lotado, Luis Pérez marcou duas vezes ainda no primeiro tempo, colocando o Colo-Colo perto do sonho. Nos minutos finais, Leonel Herrera fez o terceiro gol e decretou a conquista da Copa Libertadores da América de 1991, o primeiro título continental de um clube chileno.
Sob o comando de Mirko Jozic, o Colo-Colo não apenas venceu — transformou sua maneira de jogar. O técnico croata cumpriu a promessa feita no desembarque: tornar o clube campeão nacional e continental.
Os últimos títulos e o legado de Mirko Jozic
A era Jozic se estendeu até 1993. Nesse período, o Colo-Colo conquistou o tricampeonato nacional, a Recopa Sul-Americana de 1992 — vencida nos pênaltis sobre o Cruzeiro, no Japão — e a Copa Interamericana, com vitórias sobre o Puebla do México por 4 a 1 e 3 a 1.
O único título que escapou foi a Copa Intercontinental de 1991, perdida para o Estrela Vermelha, da Iugoslávia natal de Jozic. Mesmo assim, seu nome ficou eternizado na história do clube e do futebol chileno.
Mirko Jozic deixou o Colo-Colo em 1993, encerrando uma das etapas mais vitoriosas e emblemáticas do futebol sul-americano.
Sobre o Autor
Márcio Oliveski é o criador e analista do Final 3XSports, com foco em cobertura esportiva, mercado da bola, análises táticas e notícias atualizadas do futebol brasileiro.




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